terça-feira, 26 de julho de 2011

Dinheiro Mal Gasto


Por: Dárcio Lazzarini

                O BNDES é um banco público federal criado para ser um instrumento de financiamento de longo prazo para as empresas realizarem investimentos produtivos que agreguem no desenvolvimento econômico e social. De fato, ele vem concedendo empréstimos com baixas taxas de juros para diversas empresas; contudo, um gigantesco montante de crédito vai para as grandes corporações. Mas qual o impacto desses vultosos empréstimos com pequenas taxas de juros no curto e longo prazo?
                O impacto imediato desses investimentos é a inflação; embora já tenha ouvido de alguns economistas e políticos que o investimento leva a uma pressão baixista nos níveis de preços porque aumenta a oferta. É evidente que o capital investido aumenta a capacidade instalada o que pode causar uma elevação da capacidade ociosa que diminui os níveis de preços. Contudo, isso leva tempo. A melhor frase que já ouvi e li é auto-explicativa: "o investimento demora para virar investimento". Isso quer dizer que o capital investido levará algum tempo para aumentar a capacidade instalada e gerar capacidade ociosa. O impacto imediato é a inflação que é causada pelo aumento da demanda por insumos e mão-de-obra. Muito provavelmente, os ganhos de longo prazo compensarão as perdas de curto em circunstâncias normais; contudo, devemos pensar e repensar se isso vale a pena na atual conjuntura econômica, onde a inflação está sendo, novamente, a protagonista da história.
                No médio e longo prazo, destaco a colaboração para a manutenção de altas taxas básicas de juros e diminuição da eficiência produtiva.
                O crédito direcionado do BNDES corresponde a cerca de um quarto do crédito total. As taxas de juros observadas nessa modalidade de crédito são muito mais baixas que as praticadas no mercado, consequentemente, ele não é afetado por mudanças na taxa básica de juros. Então, como a taxa SELIC só afeta o crédito não direcionado, para controlar a demanda seriam necessários aumentos na taxa básica maiores daqueles praticados em um cenário com menos crédito direcionado. Para corrigir o problema, as taxas de juros dos direcionados deveriam acompanhar as praticadas no mercado ou o volume desse tipo de crédito cair em grande escala, o que é pouco provável.
                Por fim, os créditos direcionados às grandes corporações concentram ainda mais a indústria. Essas empresas teriam condições de tomar empréstimo no mercado mais facilmente que as pequenas e médias empresas por causa dos seus melhores ratings, mas, aparentemente, o BNDES também só analisa o risco para a concessão do crédito e não o benefício que o capital emprestado irá gerar para a economia. Os grandes empréstimos do BNDES às corporações dificultam a entrada de novas instituições o que diminui a competitividade e a eficiência econômica, pois uma empresa sem concorrentes não tem incentivo à inovação; ela será um grande elefante branco que nunca desmamará de sua mãe: o governo.

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